O Cristão e seu papel
profético-social
Miquéias 6.1-16
O assunto justiça social é tão atual quanto polêmico.
É atual porque parece que a cada dia nosso país se distancia mais e mais
de uma política social justa que visa atenuar os problemas dos mais
desafortunados.
É polêmico porque muitos insistem em achar que a igreja não deve se
preocupar com isso, seu papel é somente adoração. É claro que a função
primordial da igreja é cultuar a Deus, mas como veremos, adorar a Deus implica
em fazermos o que ele manda. A primeira delas é sermos exemplos de justiça.
Recentemente foi divulgado nos jornais um estudo sobre a distribuição de
renda no Brasil. A metade mais pobre da população detém 11,6% dar riquezas
enquanto os 20% mais ricos do Brasil, ficam com 63,4%. Não pense que este é o
fim do mundo. Os profetas do Antigo Testamento lidavam com situações muito
piores do quer esta.
Vejamos como eles tratavam o problema e como isto pode nos servir de
lição no nosso contexto, de nosso país.
I. A Voz dos profetas - Denúncias
O período dos profetas no Antigo Testamento pode ilustrar muito bem a
indignação de Deus em relação a injustiça social.
Dentro do ideal divino, havia lugar para todos e o respeito a certas
regras de organização e conduta, que manteria o povo, de certa forma tranqüilo.
O grande problema é que o profeta começou a perceber uma grande
desigualdade. O problema não era a desigualdade em si mesma. O que levou os
profetas a tocar na questão foi a imensa diferença de uma classe social e a
outra. Se Deus estabeleceu leis aos pobres, viúvas, órfãos, escravos,
estrangeiros, é porque Deus já sabia que haveria certas diferenças, mas há
diferenças que são toleráveis e suportáveis, há certas diferenças que são
naturais e até necessárias, o que não pode haver, e, era exatamente a denúncia
profética, é a opressão, o roubo, a indiferença, o desejo de adquirir tirando o
que pertence ao outro, subornando juízes, sacerdotes, falsos profetas, etc..
Agora veremos qual foi a palavra que o profeta trouxe da parte de Deus, neste
tempo de opressão social:
A. Isaías
Clamou contra a injustiça, o suborno, a maldade e a opressão
destruidora, contra o próximo. Ninguém tem direito de oprimir o outro. Isaías
dizia que atos como aqueles eram ofensivos a Deus. Quem tinha condições
comprava a justiça, portanto, os juízes eram corruptos, o poder legislativo e
executivo se deixava vender; como poderia Deus tolerar semelhante coisa?
(1:15-17,23; 5:8,23; 58:6,7).
B. Jeremias
Denunciou o enriquecimento ilícito e também a opressão contra: pobres,
viúvas, órfãos; também percebeu que a ambição se assenhoreava dos homens, o
profeta viu o rico comprando os tribunais, viu o perverso ser justificado e o
justo condenado. O profeta clama, denuncia e diz que Deus o justo juiz irá
castigar todo tipo de injustiça praticada pelo homem (5:26-29; 9:2-6;
22:13-17).
C. Amós
Não se amedrontou diante das autoridades, acusou-as de conivência com as
injustiças, denunciou o pecado de participarem de um sistema de vida que
destruía os mais fracos, os humildes e os pobres da terra. Enquanto o império
se expandia pelas mãos de Jeroboão II, os camponeses tinham de pagar o
exército, o luxo e a suntuosidade da vida palaciana. Uma desigualdade tão
grande que causou repugnância aos olhos do profeta. Amós denunciou, trouxe a
Palavra do Senhor, não podia calar-se, ao ver tanta riqueza conseguida como
fruto da violência e da exploração (3:10). Falou diante das finas damas, não
poupou se vocabulário, disse que elas eram “vacas de basã” (4:1). Devido a
todos os abusos cometidos contra os mais fracos, Amós se convenceu, Deus irá
tomar vingança, Deus não poupará nenhum no dia do juízo (4:2,3; 8:7-10).
D. Miquéias
Se levantou como a voz de Deus e clamou contra todos os abusos cometidos
pelos detentores do poder. Ele sabia dos que passavam a noite planejando o mal,
para colocar em prática à luz do dia (2:1,2). Ele denunciou aquilo que foi
conquistado ilicitamente, às custas da mentira, da balança falsa e da opressão,
quem se enche com o sangue dos outros será destruído por Deus (6:10-13). A
liderança do país estava corrompida (7:3). Miquéias vê, analisa e revela a voz
de Deus. Deus irá exercer vingança contra esta forma de vida corrupta.
Apesar de serem citados apenas quatro profetas nesta sessão, o período
de profecia sob a palavra deles é bastante longo. Desde 740 a.C. (Isaías) até
585 A.C. (Jeremias). Ou seja, 125 anos. Durante todo este tempo a mesma
mensagem Deus enviava a seu povo por meio de diferentes profetas e o povo não
se arrependeu.
II. A Voz do Povo – Reclamações
Parecia injusto aos olhos do povo uma palavra tão dura de Deus
justamente em uma época de tanta religiosidade. “Que mais Deus quer de nós?
Será que ele quer mais sacrifícios? O que pode saciar um Deus tão grande? Será
que ele quer o meu filho mais velho como holocausto?” (Mq 1.6-7)
Puro cinismo. Achavam Deus exigente demais. Criam que sua religiosidade
era mais que suficiente para agradar qualquer deus. Que direito tinha ele de
querer mais? “O que é que pode saciá-lo?
Isaías foi contemporâneo de Miquéias. A mensagem de seus livros tem
muita coisa em comum. Não é de se admirar então, que tenha enfrentado a mesma
dificuldade com o povo. Veja Isaías 1.10-17. A coisa ia mal. Sofriam ataques
dos inimigos, as colheitas eram sempre saqueadas. A reação do povo foi
multiplicar sacrifícios a Deus, perseveram em orações, fazer mais festas
religiosas. Faziam isso como se pudessem comprar o favor de Deus. Esforço vão.
Para tudo isso Deus disse: “…a minha alma as aborrece, estou cansado de as
sofrer.” (Is 1.14)
Dois profetas constataram a mesma tendência do povo de querer barganhar
bênçãos com Deus e reclamar “só porque” esse Deus não se deixava comprar.
Uma questão muito importante precisa ser respondida através de nossas
vidas: O que é ser crente? Será que freqüentar a igreja 2 ou 3 vezes por semana
nos faz um?
Os argumentos do povo podem ser modernizados: “vou a igreja sempre, dou
meu dízimo e até ofertas... o que mais Deus quer de mim?” Da mesma forma que
Judá e Israel, se usarmos estes tipos de argumentos vamos estar barganhando com
Deus
III. A Voz de Deus – Exortação à prática
Eles entenderam tudo errado! Deus não queria mais sacrifícios ou festas.
Chega de falsa religiosidade (1 Sm 15.22; Sl 51.16-17; Ec 5.1; Os 6.6; Rm
14.17). Não adianta nada fazerem sacrifícios sem fim e ao mesmo tempo
praticarem o suborno; festas junto com opressão ao pobres.
A essência do recado de Deus foi que o problema social era a prova da
falsa religiosidade deles. Ou em outras palavras, melhor que tudo aquilo era
ser honesto e justo, saber amar e perdoar, e ser humilde diante de Deus. (Mq
6.8) “Aprendam a fazer o bem, a ser honestos e a ajudar os pobres, os órfãos e
as viúvas” (Is 1.17)
O crente quando comete injustiças sociais vai contra tudo aquilo que
crê. Por vezes é difícil resistir à tentação. Afinal, muitas pessoas
inescrupulosas, enriquecem rapidamente, enquanto outros que temem a Deus ,vivem
somente com o necessário. Será que vale a pena ser justo? Leia Malaquias
3.13-18 e responda você mesmo a esta pergunta.
Conclusão
Como a igreja pode lidar com a injustiça social?
Em primeiro lugar, não a praticando. Como vimos, se alguém diz adorar a
Deus e mesmo assim comete um monte de injustiça, essa pessoa é hipócrita, diz
uma coisa e faz outra. Se quisermos mudar o padrão do mundo, temos que
apresentar um padrão diferente. Nada pode ser mais eficaz e causar tanto impacto
quanto um exemplo diferente!
Em segundo lugar, a igreja e os crentes podem e deve tentar amenizar o
problema que no Brasil é quase generalizado. Como isso pode ser feito
Veja alguns exemplos de atuação da igreja na área de justiça social:
a. pressão política – cobrar do governo atitudes
b. desenvolver projetos de auxílio a comunidade local mais carente.
(sopão, distribuição de roupas, cestas básicas...)
Nossa igreja tem várias frentes de trabalho visando o
bem social. Seja através da Junta Diaconal, departamentos internos ou de projetos
especiais, você pode se engajar nessa lida ta
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