Bens Materiais e Mordomia Cristã
- 1Tm 6.6-10; 2Co 9.6-15
Em se tratando de bens materiais, a igreja cristã parece que vive um
antagonismo. Uma parte dela entende que dinheiro tem uma importância tão grande
que não mede esforços para consegui-lo; por outro lado, há aqueles que quase
chagam a dizer que o dinheiro é sujo por isso devem minimizar o contato com qualquer
coisa que vá além das necessidades básicas do corpo.
Nossa proposta, então, é construir uma visão correta a respeito dos bens
materiais a partir das prescrições bíblicas.
A. Contentamento (1Tm 6.6-10)
O apóstolo Paulo, alertando seu jovem discípulo Timóteo disse que falsos
mestres se levantariam muito mais preocupados com as riquezas que poderiam
ganhar no exercício da religião do que com a pregação do evangelho. Estes,
disse ele, supõe que “a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5b)
Para combater esse tipo de comportamento, Paulo afirmou que esse não foi
o ensinamento deixado por Jesus. Esses tais mestres, portanto, só poderiam ser
falsos mestres porque suas palavras e ações em prol da obtenção dos bens
matérias não eram compatíveis com as palavras e ações de Jesus.
Os falsos mestres eram materialistas. Paulo já idoso estava alertando
sobre como identifica-los, mas também para que Timóteo (e a nós também) não se
deixasse levar pelo mesmo caminho. De fato, no materialismo, reside uma força
tentadora que pode levar o povo de Deus a cair. Esse não era um problema novo
enfrentado somente por Timóteo, mas desde o Antigo testamento lidar com
riquezas sempre representou uma fonte quase inesgotável de problemas para o
povo de Deus. (Ver quadro “Um Problema Antigo”) Assim como os profetas do
Antigo Testamento revelaram ao povo como deveria ser prudente na administração
de seus bens, Paulo fazia o mesmo com Timóteo já no Novo Testamento. Todo o
conjunto da Bíblia, portanto, serve para nós, cristãos modernos, como um manancial
de exortações a respeito desse assunto.
Devemos entender o materialismo como sendo “a visão do mundo que coloca
a acumulação de coisas materiais no ponto alto do interesse privado e
corporativo. A busca da riqueza é vista como o mais alto bem no materialismo”
(R.C Sproul, Discípulos Hoje, São Paulo, Cultura Cristã, 1998, p. 239)
Paulo pôde ensinar a respeito do materialismo para Timóteo com grande
autoridade porque ele mesmo já havia passado por altos e baixos em sua vida
ministerial no que tange ao sustento pessoal. “Tanto sei estar humilhado como
também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência,
tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso
naquele que me fortalece. (Fp 4.12-13) O resultado disso foi que ele aprendeu a
viver contente em toda e qualquer situação. (Fp 4.11).
O remédio contra o materialismo conforme narrado por Paulo é o
contentamento ou frugalidade. Segundo o Dicionário Houaiss, a palavra
frugalidade pode ser definida como “simplicidade, sobriedade de costumes, de
hábitos etc.” Foram com palavras muito parecidas que Paulo orientou Timóteo:
“Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes.” (1Tm 6.8)
A lição direta que tiramos desse texto é que devemos nos esforçar para
ter o necessário. Se Deus der mais do que o necessário, devemos ficar tão
satisfeitos quanto se ele mandasse somente o necessário. “…não me dês nem a
pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que,
estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha
a furtar e profane o nome de Deus. (Pv 30.8-9)
De igual modo Jesus nos ensinou e nos prometeu que jamais nos faltaria o
necessário a vida. Primeiro ele nos ensinou que deveríamos orar somente pelo
“pão nosso de cada dia” (Mt 6.11). Depois, confirmou este conceito dizendo que
se Deus cuida das aves do céu e das flores do campo, não deveríamos nos deixar
levar pela ansiedade quando ao alimento e as vestes (Mt 6.25-34). A aflição
pelas posses materiais é um comportamento típico dos gentios (Sl 73. 7 e 12),
daqueles que não conhecem e não sabem que existe um Deus que zela pelo
bem-estar. (Mt 6.32). Da mesma sorte alertou Isaías: “Por que gastais o
dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz?
Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares.”
(Is 55.2) Com certeza, em vez de termos o coração nos tesouros deste mundo (Mt
6.19), devemos tê-lo em um bem mais duradouro (Mt 6.20-21), fruto de um reino eterno
(Mt 6.33).
B. Mordomia
Como as posses materiais sempre foram uma nascente de problemas para o
cristão que deseja ter sucesso na obediência a Deus, um novo tipo de
radicalismo surgiu na Idade Média e ainda impera na mente de muitos em nossos
dias: o idealismo.
Com o intuito de não se contaminarem com o mundo e nem com os valores
dessa vida muitos chegaram a admitir que qualquer tipo de posse material era
maligna. Surgiram, então, movimentos como o dos franciscanos pregando a
necessidade de se viver em monastérios, ou seja, uma tentativa de se excluir
desse mundo.
Percebemos com muita clareza através das páginas das Escrituras que o
objetivo de Deus para os seus filhos nunca foi isolá-los do mundo. Jesus disse:
“Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.” (Jo 17.15) Em
grande parte de sua Oração Sacerdotal (Jo 17), Jesus se preocupou em interceder
por seu povo que está no mundo, mas não é desse mundo;. ou seja, por justamente
saber de todas as nossas dificuldades, ele pede ao Pai por nós porque temos a
obrigação de viver os valores do Reino de Deus em um mundo que “jaz no maligno”
(1Jo 5.19).
Podemos dizer, então, que no que se refere a posses, o padrão do Reino
de Deus é abstenção total delas? Claro que não. Eis 2 motivos:
1. Porque Deus é o possuidor de todas as coisas
O rei Davi, ao consagrar todas as ofertas destinadas para a construção
do Templo de Jerusalém, disse: “Teu, SENHOR, é o poder, a grandeza, a honra, a
vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu,
SENHOR, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos. Riquezas e glória
vêm de ti, tu dominas sobre tudo, na tua mão há força e poder; contigo está o
engrandecer e a tudo dar força. (1 Cr 29.11-12). Não Podemos nos esquecer que
tudo o que existe foi criado por Deus e a opinião dele sobre sua obra está
registrada: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.” (Gn 1.31a).
Por isso sempre que o ser humano tenta de alguma forma dar mais valor ao que
foi Criado do que ao próprio Criador, Deus faz lembrar que tudo o que existe é
dele, como aconteceu no caso da soberba do rei Nabucodonosor (Dn 4) ou dos
hebreus sob a profecia de Ageu (Ageu 2.8); afinal, “ao SENHOR pertence a terra
e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.” (Sl 24.1)
2. Porque Deus instituiu o ser humano como administrador
Deus, sendo criador e possuidor de todas as coisas, pode dispor de seus
“bens” da forma como melhor lhe apraz. Deus deu uma ordem específica no Éden
para que o ser humano cuidasse da criação e Ele nos instituiu como
vice-gerentes dela. Esse é o melhor sentido para a palavra “mordomia” – aquele
que cuida de algo que não é seu. Tudo vem de Deus, já sabemos disso: “… pois
ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais.” (At 17.25a)
A maior dificuldade está na definição de posse. Afinal de contas, você é
possuidor de algo, como uma casa, carro, bicicleta… nem que seja um palito de
sorvete, você possui alguma coisa. Ricos ou pobres devem se lembrar que
“possuir de fato” é algo que não existe para o ser humano. Toda a riqueza que
hoje está nas mãos de alguém, ontem esteve nas mãos de outros e amanhã, de um
terceiro. Pela própria finitude e mortalidade humanas, não conseguimos e jamais
conseguiremos possuir algo em definitivo que seja deste mundo. Nada é nosso,
mas o que “temos” está conosco. Só um pode dizer que “tem” e esse é o próprio
Deus. Tudo o que está em nossas mãos e muitas vezes arrogantemente dizemos que
“é nosso”, na verdade é de Deus. Está comigo para que eu cuide bem e depois
preste conta da maneira que trabalhei aquilo que me foi confiado (Mt 25.14-30).
O conceito de mordomia nos responsabiliza a trabalhar aquilo que Deus
tem confiado a nossas mãos de maneira inteligente. Há cristãos que entendem que
não seja certo o uso de uma caderneta de poupança, por exemplo. Essa opinião,
mesmo que proferida com as melhores das intenções, se choca com o ensinamento
bíblico. Na parábola do semeador, Jesus legitima o uso de um banco para que o
dinheiro não se desvalorize (Mt 25.27). Isso é feito não porque o servo ama o
dinheiro e sim porque ele quer cuidar da melhor forma possível daquilo que lhe
foi deixado nas mãos pelo seu Senhor. Ele ama o seu Senhor mais do que todas as
coisas (Dt 6.5; 11.1; Mt 22.37). Mais do que o próprio dinheiro.
C. Generosidade (2Co 9.6-15)
O bom mordomo deve demonstrar amor ao seu Senhor obedecendo-o em suas
recomendações sobre como cuidar dos bens que temporariamente estão com ele.
Deus disse que uma das maneiras de usar nossas posses seria na assistência aos
necessitados. Afinal, o amor a Deus está diretamente ligado com o amor ao
próximo (Lc 10.27; 1Jo 4.20).
O apóstolo Paulo entende essa conexão que existe entre servir a Deus e
ao próximo e detalha ainda mais o conceito: “enriquecendo-vos, em tudo, para
toda generosidade, a qual faz que, por nosso intermédio, sejam tributadas
graças a Deus. Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade
dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus,” (2 Co 9:11-12)
Em outra oportunidade, quando Paulo recebeu uma oferta dos irmãos
filipenses ele se demonstrou alegre mais pelas bênçãos advindas do
relacionamento daquela igreja com Deus do que pela oferta em si (Fp 4.17).
O dever de ajudar não pertence somente ao rico – se bem que este tem
mais responsabilidade nesta tarefa – mas a todos, mesmo os mais pobres (2Co
8.1-6).
Conclusão
O resultado de uma boa visão sobre a administração daquilo que nos é
confiado por Deus está em primeiro lugar em poder obedecê-lo e agradá-lo. Mas
Deus é tão gracioso que na obediência a ele nós recebemos bênçãos sem medida.
Como cristãos temos que aprender a viver mais gratos pelo que temos e dispostos
a abrir nossa mão para ajudarmos uns aos outros, pois se assim procedermos,
Deus também abrirá sua mão para nós, mas com uma grande diferença: a mão de
Deus é infinitamente maior do que a nossa.
“E isto afirmo: aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que
semeia com fartura, com abundância também ceifará.” (2 Co 9.6)
Um problema Antigo
Isaías
Clamou contra a injustiça, o suborno, a maldade e a opressão
destruidora. Ninguém tem direito de oprimir o outro. Isaías inspirado pelo
Espírito revelou que atos como aqueles eram ofensivos a Deus. Quem tinha
condições comprava a justiça, portanto, os juízes eram corruptos, o poder
legislativo e executivo se deixavam vender. Como poderia Deus tolerar
semelhante coisa? (1.15-17,23; 5.8,23; 58.6,7).
Jeremias
Denunciou o enriquecimento ilícito e também a opressão contra: pobres,
viúvas, órfãos; também percebeu que a ambição se assenhoreava dos homens. O
profeta viu o rico comprando os tribunais, o perverso ser justificado e o justo
condenado. O profeta clamau, denunciou e diz que Deus, o justo juiz, iria
castigar todo tipo de injustiça praticada pelo homem (5.26-29; 9.2-6;
22.13-17).
Amós
Não se amedrontou diante das autoridades, acusou-as de coniventes com as
injustiças, denunciou o pecado de participarem de um sistema de vida que
destruía os mais fracos, os humildes e os pobres da terra. Enquanto o império
se expandia pelas mãos de Jeroboão II, os camponeses tinham de pagar o
exército, o luxo e a suntuosidade da vida palaciana. Uma desigualdade tão
grande que causou repugnância aos olhos do profeta. Amós denunciou, trouxe a
Palavra do Senhor e não calou-se ao ver tanta riqueza conseguida como fruto da
violência e da exploração (3.10). Falou diante das finas damas, não poupando
seu vocabulário, disse que elas eram “vacas de basã” (4.1). Devido a todos os
abusos cometidos contra os mais fracos, Amós se convenceu, Deus irá tomar
vingança, Deus não poupará nenhum no dia do juízo (4.2,3; 8.7-10).
Miquéias
Se levantou como a voz de Deus e clamou contra todos os abusos cometidos
pelos detentores do poder. Ele sabia dos que passavam a noite planejando o mal,
para colocar em prática à luz do dia (2:1,2). Ele denunciou aquilo que foi
conquistado ilicitamente, às custas da mentira, da balança falsa e da
opressão,.Quem se enche com o sangue dos outros será destruído por Deus
(6:10-13). A liderança do país estava corrompida (7:3). Miquéias vê, analisa e
revela a voz de Deus. Ele irá exercer vingança contra essa forma de vida
corrupta.
Apesar de serem citados apenas quatro profetas nesse quadro, o período
pré-cativeiro de profecia sob a palavra deles é bastante longo. Desde 740 a.C.
(Isaías) até 585 A.C. (Jeremias). Ou seja, 125 anos. Durante todo este tempo
Deus enviou a mesma mensagem ao seu povo por meio de diferentes profetas e o
povo não se arrependeu.
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