Divórcio: A Exceção de Deus
Mateus 19.3-12
Em 1977 o Congresso brasileiro aprovou com 226
votos contra 159 a Lei do Divórcio no nosso país. Hoje, 25 anos depois mais de
um milhão de divórcios já foram promulgados pela justiça. Segundo o IBGE em
1985, um em cada dez casamentos terminava em divórcio. Dez anos mais tarde em
1995, este número subiu para um a cada quatro. Por mais incrível que pareça os
países com maiores porcentagens de divórcios são os mais desenvolvidos e
chamados berços do protestantismo. Os Estados Unidos lideram este lamentável
ranking com 60% dos casamentos terminando em divórcio. A Inglaterra segue de
perto com 40%.
Parece que o mundo de uma maneira geral aprovou
o divórcio. Será que nós cristãos também podemos aprova-lo assim tão facilmente
I. O casamento é indissolúvel
Nunca o divórcio foi abençoado por Deus. Desde
os tempos de Moisés quando as leis civis e morais foram dadas por Deus isso já
havia ficado bem claro nas páginas do Antigo Testamento (Dt 24.1-4). O
casamento só poderia ser desfeito por causa de “cousa indecente” (Dt 24.1),
(lit. nudez de algo). O sentido exato desta expressão não é bem claro mas com
certeza está relacionado a questões sexuais. Por essa questão não ser muito
clara é que alguns fariseus tentaram provar Jesus.
Conforme nosso texto básico, Jesus explicou
esta permissão dada por Moisés: “Por causa da dureza do vosso coração é que
Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o
princípio.” (Mt 19:8) Embora Jesus tivesse uma opinião formada e respeito, ele
faz questão de primeiro condenar a própria pergunta. Ao que parece, os fariseus
queriam saber de que forma eles poderiam divorciar-se. Jesus explicita que deveria
ser buscado não a separação mas a união pois esta era a ordem divina desde o
princípio (Gn 1.27; 2.24).
O texto de Gênesis 2.24 é bem contundente.
Adão acabara de receber Eva das mãos de Deus e a cena ilustra uma verdadeira
cerimônia de casamento. A noivo recebe a noiva e o juiz institui a união. Este
versículo revela as palavras de Deus como oficiante do mais importante pacto
entre os seres humanos. Esta é a grande chave para o entendimento da
indissolubilidade do casamento: Pacto.
Percebam que por toda a Bíblia Deus compara
seu relacionamento com seu povo através da analogia de um casamento. No Novo
Testamento os noivos se convertem para Cristo e sua Igreja. Vejamos alguns
exemplos:
Ezequiel 16 - Deus mostra a ingratidão do seu
povo que retribuiu com idolatrias as bênçãos recebidas
Jeremias 3.1 - Deus usa de misericórdia e pede
para seu povo voltar ao seu primeiro amor.
Oséias - O casamento do profeta com uma
prostituta é usado como analogia para exprimir como Deus se sentia em relação
ao seu povo.
Efésios 5.22-32 - “Grande é este mistério mas
eu me refiro a Cristo e à igreja”
O casamento, assim como o plano de salvação, é
um pacto instituído por Deus e portanto indissolúvel. Isso fica claro nas
palavras do profeta Malaquias: “E perguntais: Por quê? Porque o SENHOR foi
testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste
desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança.” (Ml 2:14 –
grifos meus)
Por causa desta conotação de aliança divina é
que Deus ordena: “…ninguém seja infiel para com a mulher da tua mocidade.” (Ml
2.15) “Pois o Eterno, o Deus Todo-Poderoso de Israel, diz: -Eu odeio o
divórcio; eu odeio o homem que faz uma coisa tão cruel assim. Portanto, tenham
cuidado, e que ninguém seja infiel à sua mulher.” (Ml 2.16 BLH) Jesus completa:
“…o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19.6b)
II. Exceções bíblicas para o divórcio
Já deve ter dado para notar que não há nenhum
estímulo divino para o divórcio, muito pelo contrário, todas as exortações
bíblicas giram em torno da manutenção do casamento. Aliás, lembremos que o
primeiro milagre público de Jesus deu-se em uma festa de casamento (Jo 2.1-12).
Mas, como disse Jesus, “por causa da dureza do vosso coração” (Mt 19.8) é que
dois casos são apresentados como passíveis de divorcio. Vejamos:
A. Adultério (Mt 19.9)
Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher,
não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete
adultério. (Mt 19:9) O adultério sempre foi abominável aos olhos de Deus. Nos
Dez mandamentos entregue ao povo por intermédio de Moisés, Deus já ordenara sua
lei moral: “Não adulterarás” (Ex 20.14; Dt 5.18). A lei civil do povo tratava o
adultério como crime cuja pena era morte por apedrejamento (Lv 20.10, compare
com Dt 22.21-24).
Na concepção de muitos cristãos, parece que
Jesus endureceu muito mais esta lei: “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás.
Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no
coração, já adulterou com ela.” (Mt 5.27-28) Muito embora haja a conjunção
adversativa “porém” neste texto que parece indicar uma mudança da lei do Antigo
Testamento para as palavras de Jesus, não é esta a melhor compreensão. A
cláusula adversativa não contrapõe a Lei mosaica com o mandamento de Cristo mas
sim a interpretação que os judeus davam para o que havia sido revelado no
Antigo Testamento. Os judeus entendiam que suas mulheres eram suas posses assim
como seus animais e que adultério só poderia ser cometido pela mulher. O homem,
segundo a concepção deles, não adulterava ao ter relação com uma prostituta. O
caso da mulher adultera ilustra bem esta mentalidade (Jo 8.1-11). A mulher
havia sido flagrada em adultério (8.3-4) mas nada se diz do paradeiro do homem
que com ela estava.
O verbo hebraico para exprimir a lei “Não
matarás” é uma forma extremamente rara no Antigo Testamento que denota não
somente “relação sexual ilícita” mas toda uma ética matrimonial. Jesus então
explicou que o entendimento que os judeus tinham a respeito do assunto estava errado
e trouxe a luz o verdadeiro espírito da lei divina, como ela sempre deveria ter
sido interpretada. Jesus deixa bem claro: “qualquer que olhar”. Ou seja,
qualquer um, e não somente a mulher é passível de ser enquadrado como adúltero.
Jesus resgatou a lei veterotestamentária: “Se um homem adulterar com a mulher
do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera.” (Lv 20.10)
Os prejuízos que o adultério traz para o
casamento são incontestáveis: “O que adultera com uma mulher está fora de si;
só mesmo quem quer arruinar-se é que pratica tal coisa.” (Pv 6.32)
B. Abandono do lar (1Co 7.10-15)
Esta segunda exceção para a continuidade do
casamento está relacionada a casamentos em que apenas um dos cônjuges é crente.
Neste texto de 1Coríntios 7.10-15, Paulo tenta responder a respeito das
dificuldades de um casamento misto. O jugo desigual não é desculpa para o
divórcio: o marido cristão não deve abandonar a mulher incrédula (v.12) e a
mulher cristã não deve abandonar o marido incrédulo (13) pois a presença de apenas
um crente dentro do lar exerce uma influência santificadora sobre todos (14).
Mas os incrédulos não se sujeitam às leis de
Deus e portanto podem querer se separar de seus cônjuges. Neste caso, explica
Paulo, depois do cristão fazer tudo pela união e mesmo assim a parte incrédula
insistir em abandonar o lar, “que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à
servidão nem o irmão, nem a irmã;” (1 Co 7.15) Isto é, a parte abandonada
estará livre para casar-se novamente.
III. O dever de Perdoar
A vida de casado não é nada fácil. Juntar duas
pessoas que têm cultura, temperamento e educação diferentes não é uma das
tarefas mais pacíficas. Somente Deus sendo a terceira dobra para o casamento
não se arrebentar (Ec 4.12).
O divórcio não é obrigatório quando acontece o
adultério. Principalmente se tratando de um casal cristão. Em primeiro lugar
ninguém está isento da exposição às tentações. Embora tenhamos a santidade como
alvo absoluto, não podemos nos achar livres de qualquer queda. Pensar estar de pé
é o primeiro passo para a queda (1Co 10.12). Em segundo lugar, dificilmente
somente um dos cônjuges é responsável pelo adultério. É claro que mais culpado
é aquele que praticou o ato mas isso não isenta a outra parte de assumir sua
parcela de culpa embora talvez pequena. Problemas como falta de diálogo,
egocentrismo, falta de apetite sexual, impaciência e frigidez são as questões
mais comuns que podem deixar um cônjuge enfraquecido diante da exposição a
tentação de ter um relacionamento extraconjugal (Mt 5.32).
Já ouvi muitos crentes dizerem frases como.
“Se meu cônjuge adulterar, não tem volta”. Tal atitude é estranha ao evangelho
pois não foi este o tipo de amor que Deus sempre demonstrou por seu povo. Mesmo
diante da infidelidade de Israel, Deus o atraiu com seu amor eterno (Jr 31.3).
Nosso Senhor chamou pelo amor seu povo em adultério (Jr 3.1) e ainda o faz ao
nos perdoar de nossos constantes pecados.
A atitude do marido ou da mulher traída deve
ser antes de tudo perdoar. O divórcio não é uma carta branca para guardar
mágoa, ira ou ressentimento. Independentemente da atitude a ser tomada, o
cônjuge traído é obrigado por Deus a perdoar (Mt 18.32-33).
Devemos lembrar que esta luta pela preservação
do casamento esta diretamente ligada a disposição do cônjuge adúltero de mudar
de atitude. Se não houver esta disposição e continuamente houver adultério
dentro do casamento, a parte fiel não pode ficar passiva. Aquele que consente
em dormir com um adúltero impenitente torna-se igualmente adúltero
Conclusão
“Se essa é a condição do homem relativamente à
sua mulher, não convém casar.” (Mt 19.10) Esta foi a resposta dos discípulos ao
ensinamento de Jesus sobre a inviolável instituição do casamento apontando o
divórcio como um lamentável e esporádico recurso. Muitos em nosso dias diriam a
mesma coisa ou algo parecido como: “Se eu não puder me separar mais tarde então
prefiro não casar”. As estatísticas comprovam que realmente o mundo pensa
assim.
Nós cristãos não podemos nos deixar levar pelo
curso deste mundo (Ef 2.2). O divórcio não é a vontade de Deus para ninguém
pois ele odeia o divórcio (Ml 2.16) e mesmo porque, superar a separação é tão
ruim ou pior do que superar uma traição, por exemplo.
EDNEIDE SANTANA
EDNEIDE SANTANA
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