O Evangelho da Glória - O Que Faz da Boa Nova
Boa Nova
Em 2 Coríntios 4.4, Paulo define morte espiritual como cegueira para a
glória. Já analisamos a prescrição de Deus para a cegueira. No exercício
soberano da Sua vontade, Deus resplandece em nosso corações para dar a luz do
conhecimento da glória na face de Cristo. Ele supera nossa resistência ao
Evangelho – causada por nossa cegueira para a glória – ao nos dar a luz
necessária para ver as coisas como elas realmente são. Esse é o milagre da
regeneração.
O nível mais profundo da obra redentiva de Deus
Junto com o entendimento dessa prescrição soberana, observamos que em 2
Co 4.4 e 4.6 Paulo descreve três níveis da obra redentiva de Deus, e à medida
que progredimos por cada nível chegamos a uma maior profundidade e maior intimidade
na obra salvadora de Deus. Deus resplandeceu em nossos corações para dar a Luz
(esse é o nível 1) do conhecimento, do evangelho (esse é o nível 2), da glória
de Deus na face de Cristo (esse é nível 3). Esse é o nível mais profundo da
obra redentiva de Deus. É para isso que nossos olhos estão abertos para ver. A
salvação diz respeito a isso!
Você consegue ver essa verdade no texto? Paulo chama o evangelho de
“evangelho da glória de Deus na face de Cristo”. E a Escritura, frequentemente,
fala da salvação nesses termos. Hebreus 2.10 descreve o ministério da salvação
de Jesus como “conduzindo muitos filhos à glória”. 1 Pedro 3.18 diz que Cristo
morreu, uma única vez, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus. E 2Ts
2.13-14 fala de uma maneira chocantemente clara: “Deus vos escolheu desde o
princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para
o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória
de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Você entende isso? O evangelho é o meio pelo qual você receberá a glória
de Cristo. Nosso evangelho é o evangelho da glória. Isso significa que o que a
Boa Nova consiste na – aquilo sobre o qual o evangelho diz respeito – glória de
Deus em Cristo. Ver e se alegrar na glória de Deus na face de Cristo é o que
faz da Boa Nova boa nova.
Sou muito grato pela forte ênfase que está sendo posta sobre a
centralidade do evangelho no evangelismo conservador contemporâneo. Não é
incomum ouvir a glória do evangelho celebrada em muitos púlpitos. No entanto,
espero que aqueles que rapidamente se identificam como centrados no evangelho
percebam que o evangelho é centrado na glória. Podemos (e devemos!) amar a
glória do evangelho. Mas precisamos reconhecer que o evangelho é o evangelho da
glória. E, portanto, quando pregamos o evangelho, devemos fazê-lo de maneira
consistente com o fato de que aquilo que faz da Boa Nova boa nova é que,
finalmente, podemos ver e nos alegrar na glória de Deus revelada na face de
Cristo.
As Escrituras não param no nível dois
Infelizmente, muitas das apresentações do evangelho que ouço param no
nível dois. Muitos cristãos pregam o evangelho como se o homem fosse o objetivo
final na salvação. Eles dizem às pessoas que Jesus morreu por elas e, então,
eles param aqui. Como se a Boa Nova fosse que Deus simplesmente nos amou tanto
que Ele não podia viver sem nós e, então, Ele morreu para ficar conosco. Mas
você consegue perceber o quanto isso nos enfatiza? O problema é que isso não é
o que o amor de Deus faz. O amor de Deus expresso no Seu resplandecer da Luz da
vida dentro de nossos corações mortos não foi para que pudéssemos olhar para a
cruz e ver nosso valor, mas para que pudéssemos finalmente ver e nos alegrar no
Seu valor. Não somos o objetivo final de Deus na salvação. O evangelho é o
evangelho da glória. No final das contas, a razão pela qual Deus salva qualquer
pecador é para manifestar Sua própria glória.
Ouça o que a Escritura diz sobre a motivação de Deus, Seu objetivo, ao
salvar pecadores:
- Isaías 43.25 – “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões
por amor de mim.”
- Ezequiel 36.22 – “Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de
Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde
fostes.”
- Tito 2.14 – Cristo “a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de
toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu.”
E na seção de abertura em Efésios 1, Paulo diz três vezes que a salvação
é planejada para o louvor da glória de Deus (Ef 1.6, 12, 14).
Uma centralidade em Deus que é na verdade uma centralidade no homem
Claro, poucos cristãos vão negar isso; muitas pessoas contentemente
confessarão que devemos ser centrados em Deus. O problema é que elas podem
estar contentes em serem centrados em Deus porque realmente acreditam que Deus
é centrado no homem. Então, a centralidade delas em Deus é na verdade uma
centralidade no homem. Elas dizem que a alegria delas está em Deus, mas a
alegria delas está realmente nelas próprias. Elas alegram-se em adorar Deus
apenas quando Deus os adora.
No entanto, o amor de Deus apresentado no Evangelho não tem o sentido de
que Ele nos valoriza! O amor de Deus apresentado no Evangelho significa que Ele
resplandece Luz que cura nossa cegueira à glória, e, assim, nos liberta do
nosso caso de amor com o pecado para que – em vez de somente sermos capaz de
estarmos satisfeitos em sermos engrandecidos – possamos estar inteiramente
satisfeitos no profundo das nossas almas ao engrandecê-Lo para sempre. Somos
livres para encontrar nossa alegria na exaltação de Outro.
Sim, Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu o seu Filho unigênito.
Mas termine a sentença! Ele fez isso com um propósito: para que todo o que nele
crê não pereça, mas tenha vida eterna. E o que é vida eterna? João 17.3: “E a
vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste.” O objetivo de Deus ao enviar Cristo não era para
mostrar à humanidade quão valiosos éramos; Seu objetivo era nos dar olhos para
ver quão valioso Ele é. Ele resplandeceu em nossos corações para dar a Luz do
conhecimento da glória de Deus na face de Cristo.
O amor de Deus para nós não é primeiramente para nós, mas para Ele
mesmo.
No entanto, já que muitas pessoas têm absorvido a definição distorcida
de amor da nossa cultura (valorizar muito algo ou alguém), muitas pessoas –
talvez alguns de vocês que estão lendo isso – tenham dificuldade em sentirem-se
amados quando ouvirem que Deus os ama por amor dEle mesmo. No entanto, amar
alguém não é fazê-lo se sentir bem acerca de si mesmo. Amar alguém é fazer o
que é melhor para ele. E o que é melhor para mim, e melhor para você – o que
vai mais satisfazer nossas almas e nos dar verdadeira e permanente alegria – é
ver a glória de Deus pela qual fomos feitos. A autoexaltação de Deus não é
arrogância, mas amor.
E há uma fartura de satisfação em sentir-se amado dessa maneira.
Sinto-me tão seguro, tão protegido, tão amado pelo fato de que eu não venho em
primeiro lugar nas afeições de Deus, mas Ele que vem. Como não sou a base da
minha segurança, Ele é. Na verdade, nunca vamos entender a doce plenitude do
que significa ser amado por Deus – nunca vamos saber a largura, o comprimento,
a altura e a profundidade desse amor que excede o entendimento (Ef 3.18-19) –
até entendermos que o amor de Deus para nós não é primeiro a nós, mas a Ele
mesmo.
John Piper prega que: “Deus ama Sua glória mais do que Ele nos ama
e…essa é a fundação do Seu amor para nós” (Irmãos, não somos profissionais, 7).
Porque é no amor a Si mesmo, no louvor a Si mesmo, na manifestação de Si mesmo,
que você e eu podemos ver e se alegrar na única coisa que pode realmente
satisfazer nosso coração: a glória de Deus na face de Cristo.
Conclusão
A Boa Nova não é apenas que Jesus morreu por nós. A Boa Nova é que Jesus
morreu por nós para nos trazer a Deus (1 Pe 3.18). A Boa Nova não é apenas que
Deus deu Seu Filho amado a nós. A Boa Nova é que Deus deu Seu Filho amado a nós
para nos dar uma eternidade de visão, conhecimento, amor e louvor a Ele. O
trabalho amoroso e expiatório de Cristo no evangelho é um meio para o grande
fim: que o povo que Deus criou finalmente O glorificaria ao desfrutar e ser
satisfeito na Sua glória – a glória pela qual eles foram criados (Is 43.7).
BOAS NOVAS!!
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