Pegos em Flagrante Pela Luz
“Pois outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Andai como
filhos da luz. Pois o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade,
descobrindo o que é agradável ao Senhor. E não vos associeis com as obras
infrutuosas das trevas, antes, porém, condenai-as. Pois o que eles fazem em
oculto, até dizê-lo é vergonhoso. Mas todas as coisas manifestas pela luz
tornam-se visíveis, pois é a luz que a tudo manifesta” (Ef.5:8-13).
As trevas representam a ignorância na qual a humanidade alienada de Deus
está mergulhada. Ao virmos para luz que é Cristo, tornamo-nos também luz, isso
porque “aquele que se une ao Senhor é um só espírito com ele” (1 Co.6:17). Por
isso, assim como Ele Se apresenta como a luz do mundo, também diz que somos a
luz do mundo (confira: Jo.8:12; Mt.5:14). Não há aqui qualquer contradição.
Como disse Paulo, somos luz no Senhor! O propósito de Deus é que sejamos
“irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração
corrompida e perversa”, entre a qual devemos resplandecer “como astros no
mundo” (Fp.2:15). Não somos luz para nós mesmos. Somos luz para o mundo! Nosso
papel não é iluminar a cabine do carro, mas a estrada à sua frente. Imagine um
carro cujos faróis estivessem voltados para o seu interior!
É em meio às trevas que devemos resplandecer a luz do amor de Cristo.
João diz no início do seu Evangelho, que “Nele estava a vida, e a vida era a
luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram
sobre ela (...) A luz verdadeira que ilumina a todos os homens estava vindo ao
mundo” (Jo.1:4-5,9). O destino desta luz é iluminar a todos os homens, e não
apenas àqueles que aderiram à nossa denominação ou credo religioso.
Nossa presença no mundo tem o objetivo de torná-lo um lugar melhor para
esta e as próximas gerações. Se em vez de melhorar, o mundo tem piorado a cada
geração, talvez seja porque estejamos projetando a luz sobre nós mesmos, e não
na direção do mundo. O sábio Salomão afirma que “a vereda dos justos é como a
luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. Mas o caminho
dos ímpios é como a escuridão; não conhecem aquilo em que tropeçam”
(Pv.4:18-19). Não importa quão densas sejam as trevas que pairam sobre os
povos, a luz sempre prevalecerá. Estamos a caminho do Dia Perfeito. Avistamos o
romper da alvorada, e não o crepúsculo do dia. “A noite é passada, e o dia é
chegado!” (Rm.13:12). Por isso, “as trevas vão passando, e já brilha a
verdadeira luz” (1 Jo.2:8b).
De acordo com Paulo, o viver na luz resulta em frutos, enquanto viver
nas trevas resulta em obras infrutuosas. E o fruto da luz consiste
invariavelmente em toda bondade, justiça e verdade. Este tripé nos serve de
parâmetro para que descubramos o que agrada a Deus. É este mesmo tripé o
fundamento de nossa utopia. É sobre ele que devemos trabalhar pela edificação
da civilização do Reino de Deus. Deus é Luz, e n’Ele não há treva alguma. “Esta
é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos que Deus é luz, e nele não há
treva alguma” (1 Jo.1:5). “Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto,
descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sobre de variação”
(Tg.1:17). Diferente de nós, humanos, sujeitos a alterações repentinas de gosto
e de humor, Deus é imutável. O que O agradava há dois mil anos, ainda é o que O
agrada hoje. Seu caráter imutável O impede de transigir com Seus princípios. Há
uma perfeita harmonia entre Seu caráter santo e Sua maneira de agir. Não há
nada obscuro em Deus. Suas intenções são sempre claras, a despeito das
interpretações que venhamos a fazer. Portanto, viver em Deus implica abrir mão
das zonas tenebrosas e sombrias de nosso ser, expondo-as à luz. Tudo em nós que
não estiver de acordo com a bondade, a justiça e a verdade, deve ser rechaçado,
pois está dentro da categoria das obras infrutuosas das trevas.
Paulo diz que a luz tudo manifesta, o que significa dizer que a luz
torna as coisas visíveis. Qual a abrangência deste “tudo”? Este “tudo” é
proporcional ao seu oposto equivalente “nada” usado em outra passagem: “Nada há
encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se”
(Mt.10:26b). Paulo ecoa esta verdade em outra passagem, ao dizer que o Senhor
“trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos
corações” (1 Co.4:5b). Portanto, “tudo” engloba toda a realidade, tanto
objetiva, quanto subjetiva. Nada ficará imune à ação da luz.
Quando um ambiente é iluminado, podemos ver claramente, e distinguir os
contornos dos objetos, os espaços entre eles, e as cores. A distinção dos
contornos nos ajuda a identificar os objetos. Portanto, onde há luz fica
patente quem é quem. É por isso que a luz atrai alguns, enquanto rechaça a
outros. Jesus tratou com este fato de maneira franca: “A condenação é esta: A
luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz porque as
obras deles eram más. Todo aquele que pratica o mal aborrece a luz, e não vem
para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem vive de
acordo com a verdade vem para a luz, a fim de que se veja claramente que as
suas obras são feitas em Deus” (Jo.3:19-21). Enquanto há gente que tem medo de
escuro, há outros que têm pavor da luz. Há certo conforto em se viver nas
trevas. Podemos esconder nossas verdadeiras intenções, camuflar nossos sentimentos,
justificar nossa conduta. Porém, quando as trevas se dissipam, vemo-nos
expostos à avaliação de Deus e apreciação dos que nos rodeiam. Aos olhos de
Deus somos todos translúcidos. Ele nos enxerga por dentro, tanto quanto por
fora. Por isso, avalia nossas ações e motivações. Ainda que logremos receber os
aplausos do mundo por causa de nossas boas obras, Deus examinará nossas
verdadeiras intenções.
A distinção dos espaços nos ajuda a caminhar entre os objetos, o que nos
possibilita a determinar a direção que vamos tomar, evitando assim colisões
desnecessárias. Quando aquela mulher da parábola perdeu sua moeda dentro de
casa, a primeira medida que tomou, antes mesmo de varrer toda a casa, foi
acender um candeeiro (Lc.15:8). Não podemos encontrar o que está perdido, sem a
indispensável ajuda da luz. A luz promove encontros e reencontros, as trevas
provocam colisões. “Aquele que diz que está na luz, e odeia a seu irmão, até
agora está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não
há nenhum tropeço. Mas aquele que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas
trevas; não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos” (1
Jo.2:9-11). Por que quem está em trevas odeia a seu irmão? Porque não o enxerga
como Deus o vê. Com isso, as colisões são constantes, agravando ainda mais o
ódio entre eles. A gente nunca sabe quem topou em quem, e, acaba colocando a
culpa sempre no outro. Discussões, partidarismo, animosidade entre as pessoas,
nada mais são do que o resultado de se andar em trevas. Por não saber por onde
andamos, acabamos invadindo o espaço alheio, desrespeitando a individualidade,
colidindo com o interesse do outro, etc. Por isso Jesus admoestou: “...Andai
enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apenhem. Quem anda nas trevas
não sabe para onde vai” (Jo.12:35b). Quem anda na luz sempre sabe em que
direção está caminhando. Sua vida tem propósito. Como atestou Paulo: “Portanto
corro, não como indeciso; combato, não como batendo no ar” (1 Co.9:26).
Além de manifestar o formato das coisas, e o espaço entre elas, a luz é
que as torna coloridas. Sem luz não há cor. A vida não tem graça. As cores
também revelam o estado real das coisas. Você comeria uma banana verde? Por que
não? Porque a cor verde indica que ela ainda não amadureceu o suficiente para
ser degustada. Se insistir em comê-la, poderá ter uma indigestão. Sem luz, não
haveria cor. Imagine um mundo em preto e branco! Seríamos todos daltônicos, ou
pior, cegos! De acordo com as narrativas de Gênesis, antes de começar a
organizar a criação, colocando cada coisa em seu devido lugar, a primeira
medida tomada por Deus foi dizer: Haja luz! (Gn.1:3). É perda de tempo tentar
colocar as coisas em ordem na escuridão. Pergunte a qualquer dona de casa se
ele se atreveria a dar uma faxina com as luzes apagadas. Pois a faxina na Casa
de Deus já começou! E quem usa de engano, não consegue firmar-se em Sua
presença augusta. A verdade o apavora. Era sobre isso que João tratava em sua
epístola, ao dizer: "Saíram de nosso meio, mas não eram dos nossos. Pois
se tivessem sido dos nossos, teriam ficado conosco; mas isto é para que se
MANIFESTASSE que nenhum deles é dos nossos" (1 Jo.2:19).
EDNEIDE SANTANA!!
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